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O Romance da Felicidade
Fortaleza sediou o curioso congresso com o nome de Felicidade Interna Bruta (FIB). Certamente ninguém de boa consciência condena a pretensão de felicidade, mas acreditar que tal dispositivo possa ser
institucionalizado, atenta contra a realidade social, histórica e psíquica do
homem.
Desde a primeira guerra mundial passando
pela segunda no curso do século XX, que a humanidade enfrenta um processo
continuado de barbarização. O ser humano tornou-se, ao longo desse período,
gradativamente mais individualista e egoísta como uma espécie de funcionamento
cultural paralelo às catástrofes sociais e ecológicas até o presente dia.
É preciso ser mentalmente cego para não
perceber o incremento da violência em todo o mundo. Negar a crueldade humana
que os príncipes mongóis de Gengis Khan a Tamerlão praticaram sem piedade no
século XI, invadindo os romanescos reinos do Himalaia é abdicar do exercício
crítico na história. Atualmente, quando se liga a televisão, lê os jornais ou
ouve o noticiário radiofônico, percebe-se que todo esse catastrófico processo
não pode ser estancado pela vontade de nenhum santo vindo do Butão. O budismo
cultiva a tolerância meditativa na prática do despojamento material que levaria
o indivíduo à felicidade no encontro com o Ser Supremo. Isso visto da
perspectiva histórica é a negação da realidade do homem contemporâneo.
A crença merece respeito, mas é necessário mostrar que certos desdobramentos sociais da religião são reificações e fugas narcísicas da contundente verdade sociocultural. O mundo não vai se acabar em 2013, como prevê a superstição espalhada pela mídia, porque o Calendário Maia já o antecipara, mas pela própria incapacidade do ser humano de impedir a destruição do planeta consequente à sua irrefreável ganância. Tais lendas são contraposições da mentalidade coletiva ao pressentimento de que o desejo de posse e domínio levará à destruição do planeta.
A história da barbárie pode ser rastreada no colonialismo francês, inglês e alemão, culminando com as formas atuais de dominação que os EUA impõem ao mundo. A tortura sistemática foi e é praticada nas prisões secretas ou semi-secretas (Guantánamo) dos países ditos
civilizados. A indiferença narcísica para com o semelhante domina a mentalidade
desta cultura que transforma tudo em espetáculo para esconder sua crueldade. Quando
se observa a história humana através dos tempos pode se compreender que a
crueldade sempre foi praticada, mas nunca com o plano e o requinte com que é
executada atualmente.
O instituto da atrocidade é tão extraordinário que leva à chamada guerra cirúrgica, na qual o extermínio é rigorosamente planejado como acontece atualmente na Faixa de Gaza. O dispositivo guerreiro é justificado como defesa dos direitos humanos que cuidadosamente é exposto pela mídia dominante no mundo e apresentado como espetáculo de circo. Dessa forma, é uma infeliz paráfrase que chega perto da tolice, transformar PIB em algo tão sublime como é a felicidade. Ao invés de FIB é preciso retornar à ética da consciência social.
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Minha reflexão levou-me à idéia de que a política tem um motor paranóico impossibilitando juntamente com os interesses de classes a consecução pelo homem da justiça e do bem. Finalmente me caracterizo como pensador radical, sem sectarismo, para quem a sociedade capitalista contemporânea se exprime pela afanosa busca do fetiche consumista.
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