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O Efeito Bin Laden
A história da violência
humana começa na horda primitiva perpassando a trajetória do homem quando as
sociedades apresentam momentos de paz entremeados com as erupções vulcânicas da
guerra. O clássico russo de Tolstói (Guerra e Paz) exprime bem essa disposição
humana, mas o seu livro Hadji Murat parece uma antecipação das cruéis ocorrências
em Boston. O notável líder checheno-Caucasiano Hadji Murat, que de fato existiu,
é transfigurado na beleza do romance de Tolstói elogiado pelo crítico de
literatura americana Harold Bloom. Os rapazes chechenos de Boston, guerrilheiros
de ocasião, trazem uma reedição por identificação com Hadji Murat e Bin Laden.
Os instintos urânicos ancestrais do homem estão sendo estimulados pelo terror
político, principalmente com o desenvolvimento do mercantilismo capitalista. Se
o colonialismo europeu espalhou desde o séc. XVI o terror pelas colônias, os
E.U.A, herdeiros dessa tradição, elevam o terror, mascarado de democracia, ao
seu ponto culminante. O terrorismo, como forma de ação política, vem sendo
praticado de modo escancarado ou insidioso pelo ocidente judaico-cristão,
criando o ambiente propício para o permanente cultivo do ódio. Bin Laden
estabeleceu as bases teóricas e práticas do terrorismo político chamado
islâmico, utilizado como arma de destruição e propaganda, de forma dramática na
derrubada do World Trade Center. A catedral do mundo capitalista veio abaixo,
confrontando duas religiões que praticam igualmente o terror: a capitalista e a
binladeana. A mídia camaleônica, capitaneada pela BBC e NBC, costuma esconder o
fato de que a mentalidade egoísta do lucro infinito existente no país líder do
capitalismo é religiosamente alimentada pela concepção de que o privado é
superior ao público e de que a magia do ouro é parte da natureza humana. Walter
Benjamin, num ensaio premonitório intitulado O Capitalismo como Religião,
afirma que o fetiche dinheiro é o seu Deus, enquanto seu culto é o mercado;
fato que Weber confirma no livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
O terror que os irmãos chechenos espalharam desde Massachusetts não é
essencialmente diferente daquele praticado por garotos americanos de origem
inglesa ou irlandesa, que aterrorizam as escolas americanas com regularidade
impressionante. O perfil psicológico desse terrorista, ou homem-bomba, foi bem
traçado por Joseph Conrad em O Agente Secreto; trata-se de uma personalidade
para quem a vida nada significa, pois todo sentido é colocado na transcendência
e sacralização do ato político. Nessa perspectiva, a pulsão de morte predomina
sobre qualquer consideração em relação ao outro semelhante – no sentido
comunitário e histórico. A personalidade coloca-se integralmente à disposição
do ódio e da vingança, que passam a nutrir a mente com muito mais vigor do que
o afeto amoroso. O espectro de Bin Laden está claramente contraposto aos de
Margareth Thatcher e Ronald Reagan e sua batalha infernal ameaça todo o planeta.
O terrorista de qualquer orientação se torna o fetiche da morte pela glória e
sacralidade.
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Perfil
Minha reflexão levou-me à idéia de que a política tem um motor paranóico impossibilitando juntamente com os interesses de classes a consecução pelo homem da justiça e do bem. Finalmente me caracterizo como pensador radical, sem sectarismo, para quem a sociedade capitalista contemporânea se exprime pela afanosa busca do fetiche consumista.
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