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A DOSIMETRIA DO ÓDIO
O ex-ministro de Ciência
e Tecnologia Roberto Amaral, escreveu para a Carta Capital sobre a chacina
moral levada a efeito por esta infeliz combinação entre o STF e a mídia
brasileira na ação penal 470, no espetáculo que se tornou conhecido pelo bordão
de mensalão.
Não discutirei aqui os
aspectos jurídicos deste julgamento que vem se desenvolvendo desde há oito anos
sob intenso bombardeio midiático, com o objetivo de criminalizar e julgar por
antecipação os réus que agora sofrem todo tipo de escárnio (confira Raimundo
Pereira - Revista Retratos do Brasil “Um julgamento medieval” e no youtube).
No artigo “Geni”,
Amaral faz um anagrama com Genoino e a digna prostituta cantada por Chico
Buarque. Diz Amaral: “Filho de camponês no interior
do interior do Ceará, em pleno semiárido nordestino, conheceu na carne, cedo,
as forças telúricas que o sertanejo pobre precisa arregimentar para sobreviver.
Menino ainda, trabalharia com o pai como “cassaco” nas frentes de trabalho do
DNOCS, carregando pedra e abrindo à força da enxada estradas de terra, pretexto
para dar sobrevida aos flagelados da seca de 1958”.
Conforme aprendi em textos políticos e sociológicos o
Poder Judiciário deve ser imparcial e neutro ao julgar qualquer questão que se
apresente diante da Corte. Os outros dois poderes pela natureza da sua
constituição política não são imparciais ou neutros.
Durante
oitos anos assistimos à passionalidade irada vinda da imagética carnavalesca
que fluía de dentro do próprio STF. O bombardeio começou com a denominação pela
mídia, Globo principalmente, dos réus como Ali Babá e os Quarenta Ladrões. Isso
evidencia no domínio factual, um julgamento antecipado que consciente e/ou
inconscientemente entrou em conluio com a Suprema Corte. Além disso, o ministro
presidente que sucedeu a Ayres Britto parece ter se tornado especialmente
suscetível aos holofotes, pois não poucas vezes, apresentou-se arrogante e
autoritário como Narciso justiceiro.
No artigo citado, a figura de Genoino é usada emblematicamente
para mostrar todo ódio, rancor e vingança que se abateu sobre essas pessoas,
visando naturalmente, um alvo mais amplo, ou seja, o projeto político do PT. O
fato é que essa ira insensata alcançou setores do senso comum e da classe média,
incapazes de fazer a crítica dessa absurdez. Genoino preso e torturado algumas
vezes, agora é chacinado no seu espírito por aqueles que desejam tirar-lhe a
dignidade e a alma, como fazem todos os torturadores de todas as épocas, desde
que o comando
garanta. Diz Amaral: [...] “a ignomínia da tortura a mais insidiosa,
implacável, fria, bestial e científica, na qual o pau-de-arara, a
“cadeira do dragão” (choques elétricos), o sufocamento, os “telefones”
(pancadas nos ouvidos) e os pontapés eram o vestibular do inimaginável em
termos de perversão e perversidade”.
O
combate necessário à corrupção não deve ser feito com dosímetro de
radioatividade passional e raivosa que levam a confundir quantidade com
qualidade, moralismo com ética e conduta inquisitorial com justiça.
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Perfil
Minha reflexão levou-me à idéia de que a política tem um motor paranóico impossibilitando juntamente com os interesses de classes a consecução pelo homem da justiça e do bem. Finalmente me caracterizo como pensador radical, sem sectarismo, para quem a sociedade capitalista contemporânea se exprime pela afanosa busca do fetiche consumista.
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