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Carta aberta ao presidente do PSB e resposta

Moniz
Bandeira: Carta aberta ao presidente do PSB
Por Moniz Bandeira
24/09/2014 - 16h00
Estimado colega, Prof. Dr. Roberto Amaral
Presidente do PSB,
A Sra. Marina Silva tinha um percentual de
intenções de voto bem maior do que o do governador Eduardo Campos, mas não
conseguiu registrar seu partido – Rede Sustentabilidade – e sair com sua
própria candidatura à presidência da República.
O governador Eduardo Campos permitiu que ela
entrasse no PSB e se tornasse candidata a vice na sua chapa. Imaginou que seu
percentual de intenções de voto lhe seria transferido.
Nada lhe transferiu e ele não saiu de um percentual
entre 8% e 10%. Trágico equívoco.
Para mim era evidente que Sra. Marina Silva não
entrou no PSB, com maior percentual de intenções de voto que o candidato à
presidência, para ser apenas vice.
A cabeça de chapa teria de ser ela própria. Era
certamente seu objetivo e dos interesses que representa, como o demonstram as
declarações que fez, contrárias às diretrizes ideológicas do PSB e às linhas da
soberana política exterior do Brasil.
Agourei que algum revés poderia ocorrer e levá-la à
cabeça da chapa, como candidata do PSB à Presidência.
Antes de que ela fosse admitida no PSB e se
tornasse a candidata a vice, comentei essa premonição com grande advogado
Durval de Noronha Goyos, meu querido amigo, e ele transmitiu ao governador Eduardo
Campos minha advertência.
Seria um perigo se a Sra. Marina Silva, com
percentual de intenções de voto bem maior do que o dele, fosse candidata a
vice. Ela jamais se conformaria, nem os interesses que a produziram e lhe
promoveram o nome, através da mídia, com uma posição subalterna, secundária, na
chapa de um candidato com menor peso nas pesquisas.
O governador Eduardo Campos não acreditou. Mas
infelizmente minha premonição se realizou, sob a forma de um desastre de avião.
Pode, por favor, confirmar o que escrevo com o Dr. Durval de Noronha Goyos, que
era amigo do governador Eduardo Campos.
Uma vez que há muitos anos estou a pesquisar sobre
as shadow wars e seus
métodos e técnicas de regime change, de nada
duvido. E o fato foi que conveio um acidente e apagou a vida do governador
Eduardo Campos. E assim se abriu o caminho para a Sra. Marina Silva tornar-se a
candidata à presidência do Brasil.
Afigura-me bastante estranho que ela se recuse a
revelar, como noticiou a Folha de São Paulo, o nome das entidades que pagaram
conferências, num total (que foi, declarado) de R$1,6 milhão (um milhão e
seiscentos mil reais), desde 2011, durante três anos em que não trabalhou.
Alegou a exigência de confidencialidade. Por que a confidencialidade? É
compreensível porque talvez sejam fontes escusas. O segredo pode significar
confirmação.
Fui membro do PSB, antes de 1964, ao tempo do
notável jurista João Mangabeira. Porém, agora, é triste assistir que a Sra.
Marina Silva joga e afunda na lixeira a tradicional sigla, cuja história
escrevi tanto em um prólogo à 8a. edição do meu livro O Governo João Goulart,
publicado pela Editora UNESP, quanto em O Ano Vermelho, a ser reeditado (4a
edição), pela Civilização Brasileira, no próximo ano.
As declarações da Sra. Marina Silva contra o
Mercosul, a favor do subordinação e alinhamento com os Estados Unidos, contra o
direito de Cuba à autodeterminação, e outras, feitas em vários lugares e na
entrevista ao Latin Post, de 18 de setembro, enxovalham ainda mais a sigla do
PSB, um respeitado partido que foi, mas do qual, desastrosamente, agora ela é
candidata à presidência do Brasil.
Lamento muitíssimo expressar-lhe, aberta e
francamente, o que sinto e penso a respeito da posição do PSB, ao aceitar e
manter a Sra. Marina Silva como candidata à Presidência do Brasil.
Aos 78 anos, não estou filiado ao PSB nem a
qualquer outro partido. Sou apenas cientista político e historiador, um livre
pensador, independente. Mas por ser o senhor um homem digno e honrado, e em
função do respeito que lhe tenho, permita-me recomendar-lhe que renuncie à
presidência do PSB, antes da reunião da Executiva, convocada para sexta-feira,
27 de setembro. Se não o fizer – mais uma vez, por favor, me perdoe dizer-lhe –
estará imolando seu próprio nome juntamente com a sigla.
As declarações da Sra. Marina Silva são
radicalmente incompatíveis com as linhas tradicionais do PSB. Revelam, desde
já, que ela pretende voltar aos tempos da ditadura do general Humberto Castelo
Branco e proclamar a dependência do Brasil, como o general Juracy Magalhães,
embaixador em Washington, que declarou: “O que é bom para os Estados Unidos é
bom para o Brasil.”
Cordialmente,
Prof. Dr. Dres. h.c. Luiz Alberto de Vianna Moniz
Bandeira
Moniz Bandeira é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e professor titular de história da política exterior do Brasil, no Departamento de História da Universidade de Brasília (aposentado).
Moniz Bandeira é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e professor titular de história da política exterior do Brasil, no Departamento de História da Universidade de Brasília (aposentado).
Resposta
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2014
Estimado professor Moniz Bandeira
Respondo à sua carta-aberta, enviada de seu
privilegiado posto de observação em St.
Leon-Rot, Alemanha.
Devo-lhe respeito e admiração. Acompanho sua
produção literária. Dela é devedor nosso país.
Considero sua liberdade e independência
intelectuais, de “livre pensador”, condição que não posso arguir. Militante
engajado, tenho compromissos com projetos, ideias e valores expressos em
programa partidário que não pode ser alterado ao sabor de especulações como a
de que a queda de uma aeronave resultou de conspiração estrangeira. Tampouco
posso guiar-me por “premonições”. A famosa ‘realidade objetiva’ não me permite.
O processo político-partidário, mesmo sem o
“centralismo democrático”, impõe limites ao millordiano “livre pensar é só
pensar”. Certamente, o professor ainda admira aquele autor que escreveu: “Os
homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem, não a fazem
sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”.
Caminhei, da juventude no antigo PCB, para, na maturidade,
refundar o PSB ao lado de Antônio Houaiss, Jamil Haddad e, a partir de 1990, Miguel Arraes. Construímos permanentemente, no Partido, pontes
para o futuro. O PSB não abandonará o embate contra as desigualdades sociais,
pela reforma agrária, pela defesa do meio-ambiente, pelo domínio de novas
tecnologias, pela ampliação e melhoria do sistema de ensino e pela segurança do
cidadão; não renunciará à luta pelos grandes projetos estratégicos, sejam os de
infraestrutura para o desenvolvimento social e econômico, sejam os que darão
suporte ao seu papel como ator global. Aqui me refiro, inclusive, às
iniciativas que respaldarão militarmente a política externa soberana e à
aproximação com nossos irmãos africanos e latino-americanos. O PSB não
arrefecerá seu compromisso de atuar como protagonista na construção da nação
brasileira e não fará concessões aos desvios do patrimônio público.
Renunciarei, ai sim, à
presidência do PSB caso essas proposições sejam abandonadas. No calor de
campanhas eleitorais sobram boatos e acusações sem eira nem beira. Eleições
passam, professor, o país fica; o processo histórico segue sua marcha, a
política sobrevive, os partidos ficam. Alguns, com ideários descaracterizados;
outros, mais apegados aos seus princípios.
Como dirigente do PSB, cabe-me zelar pelo
cumprimento de nossos compromissos programáticos, observada a realidade
objetiva. É o que farei. Mancharia minha biografia se, acossado por premonições
e pela libertinagem do “livre pensar”, optasse pela cômoda retirada nesse momento
tão rico da construção da democracia brasileira.
Com apreço,
Roberto Amaral
Presidente do Partido Socialista Brasileiro
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Minha reflexão levou-me à idéia de que a política tem um motor paranóico impossibilitando juntamente com os interesses de classes a consecução pelo homem da justiça e do bem. Finalmente me caracterizo como pensador radical, sem sectarismo, para quem a sociedade capitalista contemporânea se exprime pela afanosa busca do fetiche consumista.
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