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A Coragem de Ser


O interessante
debate promovido pelo Grupo de Estudos Psicanalíticos de Fortaleza, no
auditório da Livraria Cultura, sobre a filosofia
e a obra de Sartre levanta
uma reflexão que parecia adormecida na poeira do tempo. Eu e o teólogo Carlo
Tursi, examinamos a literatura,
o teatro e afilosofia deste
notável ser humano chamado
Jean Paul Sartre. Os terríveis tempos em que vivemos criam a exigência de voltar a pensar na existência humana, nesta
primeira civilização mundializada da história. Sartre teve uma infância
atribulada pela quase psicose, tendo perdido o pai ainda bebê, e sendo educado
pela mãe zelosa, odiou-a quando
aos dez anos, lhe trouxe um padrasto.
A sua natureza
rebelde e seus dons teatrais, literários e filosóficos manifestaram-se
precocemente com a ajuda do
avô materno. Nunca aceitou a psicanálise
nem o marxismo, embora tenha lido toda a obra
de Freud e se filiado ao Partido Comunista Francês. Sartre afirmava que Freud
tinha criado o inconsciente que ele chamava de má-fé, enquanto aos comunistas
chamava-os de nojentos, pois sabendo da verdade histórica na qual o homem
vagueia, desenvolveram o absurdo determinismo histórico. Dizia que não tinha
Complexo de Édipo, nem superego e que sua existência era determinada por ele
próprio através do ato livre. Desse modo, era a existência livre que afirmava o Ser contra o pano de fundo do Nada
angustiante e nauseante dos que vivem na domesticidade do cotidiano.
Quando se lê a obra de Sartre é palpável que autor,
narrador e personagens praticamente se confundem. O Roquentin de A Náusea e o Orestes de As
Moscas, conforme afirma o próprio Sartre na sua biografia romanceada, As
Palavras, são ele próprio. O pessimismo filosófico do existencialismo
europeu nasceu fortemente entre duas guerras mundiais e ampliou-se no pós-guerra.
Portanto, Sartre é um produto dessa história fenomenal que ele criticava, e seu
Orestes é uma versão genial do Complexo de Édipo, que está igualmente presente
na grandiosa trilogia Os Caminhos da Liberdade.
Sartre assim, nunca
conseguiu resolver o problema insolúvel, no qual se debate o Serindividual da ontologia e o Existir
fenomenal da história. Aliás, todos os existencialismos deKierkegaard a Marcel, tangeceando Nietzsche, ou se
refugiam na transcendência do Ser ou
no solipsismo da chamada existência autêntica como em Sartre.
A autenticidade
do grande filósofo francês é entretanto indiscutivel, um único exemplo mostra
isso, quando recusou espetacularmente o Prêmio Nobel, recomendando a Estocolmo que entregasse o dinheiro ao
governo cubano. Contrariamente ao existencialismo, penso a história se movendo entre
coletividades amigas e inimigas, lutando em guerras que jamais deixarão de
existir, entremeadas por períodos de paz. A política
regida por regras constitucionais é outra forma de batalha, que pode levar ao
nazismo ou ao imperialismo como é atualmente o americano.
O
Brasil pode optar entre avassalagem ao império e a liberdade altiva pelo voto. Esse é o impasse da elite
burguesa brasileira que sempre teve os olhos voltados para Washington e
Londres.
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Perfil
Minha reflexão levou-me à idéia de que a política tem um motor paranóico impossibilitando juntamente com os interesses de classes a consecução pelo homem da justiça e do bem. Finalmente me caracterizo como pensador radical, sem sectarismo, para quem a sociedade capitalista contemporânea se exprime pela afanosa busca do fetiche consumista.
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