0
Política - Opinião
Levar 2018 para o tapetão é a última carta da coalizão que derrubou Dilma
Levar 2018 para o tapetão é a última carta da coalizão que derrubou Dilma
por Marcos Coimbra — publicado 09/02/2017 00h15, última modificação 08/02/2017 12h12
Em meio à falência das elites, pretende-se tirar Lula da corrida presidencial. Mas somente o povo pode julgá-lo
Em janeiro de 2016, a coalizão que
derrubou Dilma Rousseff tinha uma certeza e muitas esperanças.
A primeira era de que os dias do governo petista estavam contados. Estavam
mesmo.
Já em relação ao que esperavam do futuro,
não foi igual. Tudo deu errado. Um ano depois, não se confirmou nenhuma das
expectativas daquele conglomerado de interesses empresariais, oligopólios de
comunicação, partidos antipetistas e setores do aparelho estatal.
Ela caiu, mas o cenário
complicou-se para essas forças. Hoje, nada garante que conseguirão consolidar a
vitória que obtiveram quando a tiraram da Presidência e assumiram as rédeas do
Estado.
O problema é o tempo. De
que adianta governar por alguns meses, sem um horizonte razoável de
continuidade? Fora os negocinhos (e os negociões) que geram frutos imediatos,
nada que realmente vale a pena traz retorno no curtíssimo prazo.
De que serve, por exemplo,
uma mudança constitucional se seu futuro é incerto, se um novo governo pode
revertê-la tão logo eleito, legitimado pelos milhões de votos
recém-conquistados? Que serventia tem uma reforma como essa da Previdência,
burra e cruel para com os mais frágeis, sujeita a ser cancelada logo após a
promulgação?

Procuram impedir a candidatura de Lula na próxima eleição com acusações baseadas em “convicções”
Os vitoriosos de 2016
achavam que a história se repetiria e que Michel Temer seria um novo Itamar
Franco. Que, apesar da insignificância, Temer poderia produzir um “novo
fenômeno”, uma reencarnação de Fernando
Henrique Cardoso, prontinho para salvar o primitivo capitalismo
brasileiro, livrando-o dos perigos do “lulopetismo”.
O
que tivemos, no entanto, foi a confirmação da velha regra, de que, na segunda
vez, um episódio histórico se torna farsa. Temer é pior do que Itamar em
qualquer quesito, a começar pela honorabilidade.
Henrique Meirelles, o
candidato a novo FHC, que, no Ministério da Fazenda, assinaria uma espécie de
novo Plano Real, foi um devaneio de banqueiros que não durou um mês. Seu
programa econômico não funciona, é rejeitado pelo País e é mal recebido até
pelo Fundo Monetário Internacional.
Deu também errado a
aposta na morte da liderança de Lula e no fim do PT. Estavam convencidos de que
nenhum dos dois resistiria aos ataques diários que sofrem na mídia
conservadora, mas todas as pesquisas mostram que as intenções de voto em Lula
crescem, enquanto afunda a avaliação do governo.
Frustrou-se a suposição
de que a opinião pública aplaudiria a troca de Dilma por Temer. Achavam que a insatisfação era tamanha que a derrubada da petista
desanuviaria os espíritos e aliviaria as tensões acumuladas durante os longos
meses de crise política. Chegaram a acreditar em “manifestações de massa” a
favor de Temer e repúdio ao PT. Não houve nenhuma.

Frustrou-se a suposição de que a opinião pública aplaudiria a troca de Dilma por Temer (Foto: Anderson Riedel)
Ainda no correr deste
ano, entraremos na campanha aberta para as eleições presidenciais de 2018. Os
vitoriosos no golpe de 2016, que supunham que, a esta altura, teriam boas
cartas na mão, estão com um jogo micado. Seus candidatos iam mal e pioraram.
Queriam um Itamar e têm, no máximo, o José Sarney do
quinto ano, com o mesmo formalismo vazio, a mesma falta de respaldo popular, a
mesma incompetência e inoperância. Idênticos na dúvida que provocam de se vale
a pena mexer nas instituições para terminar perambulando pelos corredores do
Palácio do Planalto. Proibidos de enunciar o nome de seus candidatos na eleição
seguinte, para não terminar de inviabilizá-los.
Resta-lhes uma única carta, que não é boa, e nela depositam suas
esperanças de permanecer no poder por mais tempo: tentar levar o jogo para o
tapetão, fugindo do campo da disputa democrática. Como não conseguem
derrotá-lo, perseguem Lula e procuram impedir sua candidatura na próxima eleição. Com
julgamentos enviesados, acusações baseadas em “convicções” e fanfarronices de
delegados.
Não há sintoma maior da
falência das velhas elites brasileiras do que estarem completamente nas mãos de
meia dúzia de juízes, promotores e delegados que parecem ignorar o bê-á-bá do
direito. Depois de se verem como os mestres do universo, que tudo podiam e
faziam, triste o ponto a que chegaram.
Mas existe um Brasil
maior, de gente menos parcial, mais capaz de respeitar a democracia e menos
manipulável, assim como existem sentimentos civilizados na comunidade
internacional. Juntas, essas forças precisam agir.
Quem tem de julgar Lula
é o povo, plenamente capaz de fazê-lo.
Arquivo disponível no site https://www.cartacapital.com.br/revista/938/levar-2018-para-o-tapetao-e-a-ultima-carta-da-coalizao-que-derrubou-dilma
Postar comentário
• Comentem as matérias, façam sugestões, elogios ou mesmo reclamações, troquem idéias, este é o lugar para opinar!
• Todo e qualquer tipo de comentário contendo ataques pessoais, expressões chulas e/ou ofensivas será sumariamente DELETADO.
• Os comentários aqui exibidos não necessariamente refletem as opiniões do Blog.
Perfil
Minha reflexão levou-me à idéia de que a política tem um motor paranóico impossibilitando juntamente com os interesses de classes a consecução pelo homem da justiça e do bem. Finalmente me caracterizo como pensador radical, sem sectarismo, para quem a sociedade capitalista contemporânea se exprime pela afanosa busca do fetiche consumista.
Seja bem vindo ao meu blog!
